3. A
dialogicidade – essência da educação como prática da liberdade
...
Se é dizendo a palavra com que, “pronunciando” o
mundo, os homens o transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual os
homens ganham significação enquanto homens.
Por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E,
se ele é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos
endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um
ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples
troca da, idéias a serem consumidas pelos permutantes.
Não é também discussão guerreira, polêmica, entre
sujeitos que não aspiram a comprometer-se com a pronúncia do mundo, nem
com buscar a verdade, mas com impor a sua. Porque é encontro de homens que pronunciam
o mundo, não deve ser doação do pronunciar de uns a outros. É um ato
de criação. Daí que não possa ser manhoso instrumento de que lance mão um
sujeito para a conquista do outro. A conquista implícita no diálogo é a do
mundo pelos sujeitos dialógicos, não a de um pelo outro. Conquista do mundo
para a libertação dos homens.
EDUCAÇÃO DIALÓGICA E DIÁLOGO
Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao
mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de
criação e recriação, se não há, amor que a infunda.
...
AS RELAÇÕES HOMENS-MUNDO, OS TEMAS GERADORES E O
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DESTA EDUCAÇÃO
...
Para o animal, rigorosamente, não há um aqui, um
agora, um ali, um amanhã, um ontem, porque, carecendo da consciência de si, seu
viver é uma determinação total. Não é possível ao animal sobrepassar os limites
impostos pelo aqui, pelo agora ou pelo ali.
Os homens,
pelo contrário, porque são consciência de si e, assim, consciência do mundo,
porque são um “corpo consciente”, vivem uma relação dialética entre os
condicionamentos e sua liberdade. Ao se separarem do mundo, que objetivam, ao
separarem sua atividade de si mesmos, ao terem o ponto de decisão de sua
atividade em si, em suas relações com o mundo e com os outros, os homens
ultrapasam as “situações-limites”, que não devem ser tomadas como se fossem
barreiras insuperáveis, mais além das quais nada existisse. No momento mesmo em
que os homens as apreendem como freios, em que elas se configuram com
obstáculos à sua libertação, se transformam em “percebidos destacados” em sua
“visão de fundo”. Revelam-se, assim, como realmente são: dimensões concretas e
históricas de uma dada realidade. Dimensões desafiadoras dos homens, que
incidem sobre elas através de ações que Vieira Pinto chama de “atos-limites” –
aqueles que se dirigem à superação e à negação do dado, em lugar de implicarem
na sua aceitação dócil e passiva.
Esta é a razão
pela qual não são as “situações limites”, em si mesmas, geradoras de um clima
de desesperança, mas a percepção que os homens tenham delas num dado momento
histórico, como um freio a eles, como algo que eles não podem ultrapassar. No
momento em que a percepção critica se instaura, na ação mesma, se desenvolve um
clima de esperança e confiança que leva os homens a empenhar-se na superação
das “situações-limites”.
Esta superação, que não existe fora das relações
homens-mundo, somente pode verificar-se através da ação dos homens sobre a
realidade concreta em que se dão as “situações-limites”.
Superadas estas, com a transformação da realidade,
novas surgirão, provocando outros “atos-limites” dos homens.
...
A SIGNIFICAÇÃO CONSCIENTIZADORA DA INVESTIGAÇÃO DOS
TEMAS GERADORES. OS VÁRIOS MOMENTOS DA INVESTIGAÇÃO
...
Neste sentido é que toda investigação temática de
caráter conscientizador se faz pedagógica e toda autêntica educação se faz
investigação do pensar.
Quanto mais investigo o pensar do povo com ele, tanto
mais nos educamos juntos. Quanto mais nos educamos, tanto mais continuamos
investigando.
Educação e investigação temática, na concepção
problematizadora da educação, se tornam momentos de um mesmo processo.
* elaborado por
Matheus
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