quinta-feira, 11 de abril de 2013

Relatório: Educação Popular em Saúde


ALUNAS: Aline Áurea Santana Walles; Aline Martins de Oliveira; Janir Colombari; Marizeth Morais

         A palestra fora ministra por Professora Mestre Cristina, coordenadora do curso de saúde coletiva da UFMT, tendo como tema principal a educação e saúde, tendo em vista que ambos possuem fortes laços de ligação, principalmente quando se trate de educação popular em saúde.
       A professora iniciou o assunto pelo contexto histórico do país, citando que em 1904, no governo de Rodrigues Alves, a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, crescia desordenadamente, a coleta de lixo e rede de esgoto quando existia, era precária, ocasionando assim a proliferação de doenças, como tifo, Febre Amarela, Peste Bubônica, Varíola, e outras enfermidades. Realizando então, uma reforma no centro da cidade, implementando saneamento básico e urbanização, sob a chefia do biólogo e sanitarista Oswaldo Cruz, que juntamente com o prefeito Pereira Passos começam a reforma que inclui a demolição das favelas e cortiços, expulsando seus moradores para a periferia. A criação das Brigadas Mata-Mosquito composta por funcionários do serviço sanitário e policiais que invadiam as casas, matando os insetos encontrados, etc. Essas medidas tomadas causaram revolta na população e com a aprovação da Campanha da Vacinação Obrigatória, que obrigava as pessoas a serem vacinadas (os funcionários responsáveis pelo serviço tinham que vacinar as pessoas mesmo que elas não quisessem), a situação piorou. A população começou a fazer ataques à cidade, destruir bondes, prédios, trens, lojas, bases policiais, etc. Esse episódio da história brasileira ficou conhecido então como Revolta da Vacina.
        Vários modelos de saúde foram implantados no Brasil cada um com seu objetivo tais como:
      Modelo Previdencialista – cidadania regulada, o Estado é quem regula quem tem direito a saúde, ou seja, só tem direito e acesso à saúde quem tem carteira assinada.
        Modelo Sanitarista/ Campanhista – que consiste em fazer campanhas de prevenção a certas epidemias, onde os assistidos são em suma os pobres, pois se o pobre ficasse doente proliferaria uma epidemia e consequentemente prejudicaria a economia no Brasil.
       Modelo INPS (Lógica de Produtividade) – modelo que consiste na produtividade, quanto mais pessoas os hospitais internavam e quanto mais tempo permanecem internados, mais verba ganhava do Estado o que culminou na chamada Indústria da Loucura, pois neste modelo a real preocupação era com a quantidade e não com qualidade.
     Com todo esse caminho que a saúde foi percorrendo nada foi muito válido. Somente com a Constituição de 1988 em seu artigo 196 que foi efetivado o direito à saúde como um “direito de todos” e “dever do Estado” e está regulado pela Lei nº. 8.080/1990, a qual operacionaliza o atendimento público da saúde.
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (Art.196,1988)

          Possuem como três princípios básicos: a universalidade, na qual todos têm direito; a integridade, que é ver a pessoa em todos os dimensões humanas; e equidade que é ver a pessoa diferente como diferente e que também possui uma diretriz importante e fundamental que é a participação popular.
O Brasil possui 2 (duas) vertente,  uma visão hospitalocêntrico e de saúde da família. A hospitalocêntrico tem o hospital como centro do cuidado e da atenção à saúde, mas hoje reconhece, mesmo que ainda de forma lenta, a saúde da família que é usada como estratégia, tendo como foco a família, a partir de um acolhimento e vínculo, sendo eixo da promoção da saúde e prevenção de doença, e possui como ferramentas fundamentais as visitas domiciliares e projetos terapêuticos, valorizando a educação em saúde.
Este novo modelo de saúde no Brasil procura considerar a sabedoria popular e dentro de uma nova perspectiva analisar o problema a partir da visão do sujeito, ou seja, olhar para o problema a partir da visão daquele que precisa de ajuda, levando em consideração o conhecimento popular. Rompe com o modelo tradicional e com o modo de educar centralizado na doença e na aquisição de hábitos e comportamentos da população. Rompe com o modelo de educação bancária que os profissionais da saúde ainda realizam, ao tentar analisar o problema de fora para dentro, sem levar em consideração o sujeito e suas especificidades. Rompe com o cientificismo dos profissionais da saúde, pois promove a integração do conhecimento científico com o conhecimento popular.
O novo modelo de saúde aplicado hoje no Brasil trabalha com os pressupostos de Paulo Freire que consiste em conhecer a realidade do sujeito levar em consideração o conhecimento do sujeito, analisar o sujeito em todas as suas dimensões sociocultural e histórico.
O objetivo central da saúde da família é conhecer através de equipes de profissionais da saúde a realidade local para criar vínculos de modo a observar, prevenir, cuidar e orientar. A partir daí reconhecemos algumas das contribuições das reflexões de Paulo Freire, sobre a importância de se conhecer o mundo através da teoria dialógica e que para assim haja a real transformação do mundo.
Paulo Freire (2004, p.165) propõe uma ação dialógica, um dialogo como fenômeno humano, tendo a palavra verdadeira que resultara numa práxis (ação e reflexão). Através do dialogo é que se inicia a busca do conteúdo de real necessidade local, surgindo assim os temas geradores, seguidas por características como: a co-laboração, a união, a organização e a síntese cultural, ou seja, na ação dialógica as massas são levadas para a transformação de si e do mundo.Para tanto são necessárias etapas para investigações dos temas geradores, iniciando com as pesquisas locais, diálogos com o pessoal local, planejamento e ação para o despertar a reflexão através das relações.
O foco central é realizado por uma ação que envolva sujeitos, e não objetos, a ação cultural dialógica, portanto, se realiza através do encontro de sujeitos, em co-laboração, que se voltam para a realidade mediatizadora para problematizá-la e desvelá-la. Confiar nas massas, em sua capacidade de conhecer a realidade e agir sobre ela, para o autor, educador e educando devem manter uma relação dialógica, pois, ambos educam entre si. Com o caso da educação popular em saúde, equipe de saúde e paciente devem manter uma relação dialógica.
Freire nos mostra que a verdadeira prática da liberdade acontece quando, através do diálogo, o povo entenda sua situação no mundo. Para ele, primeiramente devemos pesquisar “o campo” de trabalho, conhecer o povo, as suas culturas, os seus problemas e, através desses, surgem os temas geradores. Estes que são disponibilizados para despertar a relação dialógica homem-mundo de acordo com a sua experiência de vida, com a sua bagagem cultural.
O importante, do ponto de vista de uma educação libertadora, e não bancária, é que, em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão do mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas de seus companheiros. (FREIRE, 2004, p. 120)
Uma outra importância da educação popular é fazer a articulação entre a comunidade, profissionais da saúde e instituições acadêmicas de pesquisa e ensino que fará a disseminação do conhecimento.
A comunidade local faz parte da produção e construção de conhecimentos, são a partir daí que vemos as contribuições de Paulo Freire sobre a importância de uma educação conscientizadora para um transformação coletiva, e as vantagens de conhecer o ambiente de modo a verificar a real necessidade da população, e qual a sua atuação para provocar a transformação, quebrando paradigmas de uma educação bancaria, na qual alguns profissionais ainda insiste em apenas depositar conhecimentos, nem sempre relevantes e que não faz parte do cotidiano do lugar.
Como dificuldades na implementação do projeto a professora elenca motivos como: falta de participação do sujeito – público – alvo; aplicação do método; linguagem; rompimento do modelo tradicional de educação. E como facilidades são apontadas a receptividade; fácil implementação e parceiros como associações acadêmicas e ABRASCO. Neste projeto conhecimento científico e conhecimento popular se interligam, um faz parte do outro. Permitindo uma prática.
Para finalizar a palestra com a professora Cristina, debatemos sobre as disfunções do SUS, as precariedades de atendimento, que infelizmente são muitas, mas que também possui projetos de grandes pretensões que visão a qualidade, e um deles é através da relação de dialogo entre educação e saúde, por meio de parcerias entre instituições acadêmicas de pesquisa, participação popular e comprometimento dos profissionais da saúde.
“Para que seja efetiva tem que ser debatida”
Profª Cristina.

REFERENCIAS


FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 38. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.

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